domingo, 25 de setembro de 2011
DIÁLOGO DE UM CÃO COM DEUS:
"Sabe Senhor. Ainda não entendi, viemos à praça, pensei ser um passeio,
estranhei, ele não tinha esse hábito, mas vim, feliz. Aqui chegando, deu as costas,
entrou no carro, e nem disse adeus.
Olhei para os lados, nem sabia o que fazer ainda tentei seguí-lo e quase fui
atropelado. O que eu teria feito de tão mau?
À noite, quando ele chegava, eu abanava o rabo, feliz, mesmo que ele nunca
viesse me ver no quintal. Às vezes eu latia, mas havia estranhos no portão, e não
poderia deixá-los entrar sem avisar meu dono.
Quem sabe foi a mando de minha dona, por eu estar lhe dando trabalho. Não
foram as crianças: elas me adoravam, e creio que nem sabem o que aconteceu,
devem ter-lhes dito que eu fugi.
Como sinto saudades! Puxavam-me a cauda, às vezes eu ficava uma fera, mas
logo éramos amigos novamente.
Estou faminto, só bebo água suja, meus pêlos caíram quase todos. Nossa, como
estou magro!
Sabe, Pai, aqui neste canto que arrumei para passar a noite, faz muito frio, o chão
está molhado. Creio que hoje vou me encontrar aí contigo, no céu. Meu sofrimento
vai terminar, e mesmo em espírito, vou ter permissão para ver as crianças. Peço-
vos, então, não mais por mim, mas pelos meus irmãozinhos. Mande-lhes pessoas
que deles tenham compaixão. Como eu, sozinhos não viverão mas que alguns
meses na terra do homem. Amenize-lhes o frio, igual ao que agora eu sinto,
com o calor de atos de pessoas abençoadas. Diminua-lhes a fome, tal qual a
que sinto, com o alimento do amor que me foi negado. Mate-lhes a sede com a
água pura de seus ensinamentos, transmitindos ao homem, elimine a dor das
doenças, extirpando a ignorância da terra. Tire o sofrimento dos que estão sendo
sacrificados em rituais, em laboratórios e tudo mais, tirando dos humanos o gosto
pelo sangue. Ampare as cachorrinhas prenhas que verão suas crias morrerem de
fome, frio e pestes, sem nada poderem fazer. Abrande a tristeza dos que, como
eu, abandonados - Entre todos os males, o que mais doeu foi esse.
Receba, Pai, nesta noite gélida a minha alma, pois não será mais meu sofrimento,
mas dos que ficarem, e por eles vos peço.
Amém..."
Por: Joana D'Arc RondineVer
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